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Gigantes do minério de ferro montam ‘cerco à China’

Diante de um cenário de preços baixos do minério de ferro e perspectiva de novas quedas, as principais mineradoras estão montando um cerco à China para disputar cada grama importada pelo gigante asiático. A disputa se dá em dias. Enquanto a viagem de navio do Brasil, onde estão as reservas da Vale, para a China dura em média 45 dias, a viagem a partir da Austrália, onde estão suas principais concorrentes, BHP Billiton e Rio Tinto, é de cerca de 15 dias.

Com a instabilidade dos preços, quem está mais perto do destino final acaba levando vantagem, pois a cotação para venda do minério é definida no dia de chegada do navio ao território chinês, maior consumidor de minério de ferro do mundo.

A Rio Tinto acaba de concluir a primeira fase de expansão de suas operações em Pilbara, principal região produtora da Austrália e vai investir US$ 4,8 bilhões para elevar a capacidade de produção a 360 milhões de toneladas por ano até 2017.

A BHP destinou US$ 3,6 bilhões para a expansão da mina de Jimbleblar, em Pilbara. A mina vai ampliar a capacidade de produção da empresa na Austrália para 220 milhões de toneladas/ano em 2015.

A Vale teve seus supernavios Valemax banidos dos portos chineses. A mineradora decidiu investir US$ 1,3 bilhão num centro de distribuição e num terminal marítimo na Malásia, que serão inaugurados em outubro. Com isso, a companhia busca competir em melhores condições com as australianas e "encurtar" a viagem para a China para aproximadamente dez dias.

A Vale poderá descarregar os navios na Malásia e esperar o melhor momento para negociar o minério. Também poderá fazer o blending (mistura) de minérios com qualidades distintas, o que reduzirá o desconto dado na venda de minérios mais pobres.

Hoje, a Vale vive a tensão de embarcar seus navios com minério de ferro no Brasil e só acertar a venda em alto-mar, quando se aproxima da Ásia. Assim, quando fecha a transação, está sujeita às mesmas oscilações de preço que as concorrentes. E ainda para nas Filipinas, onde o minério é transferido dos Valemax — com capacidade para 400 mil toneladas — para embarcações menores, de modo a aportar na China.

— Num mercado muito líquido, acertar a venda quando o navio é embarcado não é bom negócio para o cliente, pois a flutuação de preço pode ser grande em 45 dias. Por isso, começamos a negociar o preço quando estamos perto de Cingapura — disse José Carlos Martins, diretor de Ferrosos e Estratégia da Vale.

Preço da tonelada foi abaixo de R$ 100

Apesar da desaceleração econômica, a China ainda exibe taxas de crescimento robustas, acima de 7% ao ano. Sozinha, responde por 60% do mercado transoceânico. Para analistas, com a tendência de queda de preços, o país aumentará a dependência de importações, devido à baixa qualidade de seu minério e ao elevado custo de produção.

— Para as grandes mineradoras, estar perto da China é uma questão de necessidade. Não há outra estratégia possível — diz Alex Hacking, chefe de pesquisa de metais e mineração do Citi para a América Latina.

Semana passada, a tonelada do minério de ferro caiu abaixo de US$ 100 pela primeira vez em 20 meses. Segundo o Citi, o preço médio do ano será de US$ 108, caindo a US$ 90 em 2015 e US$ 80 em 2016 como resultado do descompasso entre expansão da oferta e demanda por minério.

O diretor da Vale diz-se confortável com as previsões e frisa que há outros mercados importantes na Ásia como Coreia do Sul, Japão e Taiwan. Para John Rice, professor do Departamento Internacional de Negócios e Estudos da Ásia da Griffith Business School, na Austrália, a indústria do aço chinesa sofrerá contração:

— Excesso de investimento nesse cenário seria devastador para empresas como Vale, Rio Tinto e BHP.

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